sábado, 2 de maio de 2009

CARATER ESPELHADO

Diz uma sabedoria antiga que recordar é viver duas vezes e a manifestação progressiva do mistério da serenidade obrigou-me agora, retornar ao passado.
Em tantas expressões polêmicas, caminhamos pela vida afora, hora às vezes arranhando a alma por apenas detalhes, hora às vezes se alegrando, chorando, lamentando, mas sempre caminhando, sempre caminhando.
Em dados momentos o consolo da ausência eliminou motivações e caímos na amargura, perdemos o desempenho, desacreditamos no possível, mas continuamos caminhando.
Na imperfeição dos sentidos enfrentamos a sociedade e com um detalhe curioso descobrimos seus maliciosos pontos fortes.
Caímos várias vezes pela nossa audácia e juventude, e acompanhando a lenda da história dos outros, erguemos do impossível e restabelecemos o equilíbrio pelo simples gesto de respeito ao nosso destino. E continuamos caminhando, sempre caminhando.
Fomos marcados pela violência dos homens e no mesmo momento em que tudo parecia impossível, atravessamos a fronteira dos desejos, evidenciando nossa capacidade e prosseguimos sem reduzir a caminhada.
Fomos protagonistas das musicas românticas, do rock balada e dos bailes caseiros. Dançamos bolero, fizemos serenatas, namoramos em casa e inventamos o cuba-libre.
Transformamos sentimentos em poesia, cantamos a vida, desabafamos mágoas com os amigos e criamos nossas próprias emoções.
E caminhamos muito, sem olhar pra traz, sem conduzir o ódio, acompanhando a ilusão da áurea que nos guiava, seguindo rumo em busca de uma identidade que um dia seria eterna.
Acompanhando os critérios de formação do nosso caráter, fomos também estudantes ferrenhos, e quando tentaram tirar nosso direito à liberdade, nos tornamos rebeldes, idealistas e revolucionários.
Acompanhamos a revolução de Cuba, a criação de Brasília, a estúpida guerra do Vietnã, o desperdício de vidas nas Malvinas e sentimos na própria pele o autoritarismo verde-oliva trancando nossos mais aviltados anseios de liberdade.
E continuamos pela estrada, caminhando e cantando. Sempre cantando.
Desafiamos o bairrismo doentio da tradição e cantamos musicas italianas, criamos a jovem guarda e colamos fotografias imensas em nossos quartos onde se destacavam John Lennon, Paul Mackartney. George Harrison e Ringo Star.
Enfim, resistimos ao dogma e chegamos aos cinqüenta.
E se a saudosa memória não me falha, éramos bem mais felizes que hoje.
O tempo se foi, e agora somos protagonistas de nós mesmos.
Declinantes (assim como dizem os jovens) ou não, nossa postura do caminhar ainda continua.
E se me permitem o momento, vou me assentar ao sofá, abrir uma garrafa de cerveja bem gelada, vestir a fantasia do escrito e ouvir com serenidade um belo cd de Pink Floyd .

Mauricio Sena

Um comentário:

  1. É meu irmão! Tá tudo aí tim por tim, por sinal ótimamnte elaborado cheio de vérbia, totalmente real, e vívido, não um fruto fictício... VIVEMOS ISSO ORGULHOSAMENTE! Não consegui ler todo o texto sem antes me emocionar, chegando as lágrimas não nego! Foi muito bom para nosoutros sermos protagonista desse seu contexto, o que hoje seria quimera ( me perdoe a juventude atual) hoje... poucos se prenderiam ao dito sentimentalismo reminiscente no qual vivemos, e que você conseguiu tão bem externá-lo com ênfase quase pueril!
    Parabéns pela linda escrita, honra-me e muito ter participado também de uma grande parcela de tudo aí especificado...
    amplexo

    ResponderExcluir