quinta-feira, 14 de maio de 2009

PESSOAS QUE NÃO ENVELHECEM

Mauricio Sena

Lamentável a moderada desordem e as experiências traumáticas que se tornaram rotina na vida de todos nós.
Estatísticas assombrosas violaram as fronteiras da legalidade e o mundo, silenciosamente acompanha a brusca separação da história real das limitações do passado, da mais expressiva e embaraçosa forma de viver nos dias de hoje.
As alterações foram bem significativas e prometem um vasto extermínio dos dons que tiveram forte impacto na sabedoria dos povos.
Foi-se embora a honra, a permanência da confiabilidade e a necessidade das pessoas em se tornarem dignas e sensíveis à robustez do caráter.
O fator tranqüilizante da sociedade de hoje chegou a ponto à priori das políticas de segurança publica. Vieram e ficaram para se desenvolverem como instrumento disciplinar em favor de direitos. E cá pra nós; direitos permanecem cada vez mais esquecidos, bem distantes da atual realidade.
A dificuldade no relacionamento político de bases de diferentes teses, ilustram o cenário do caminhar de nossas vidas.
Hoje, para se agigantar nos critérios superficiais que aos poucos vão se tornando leis obrigatórias, o povo suborna a própria consciência e curva-se servilmente à influência de opiniões vãs e indefinidas.
A que desequilíbrio chegamos nós!
Com o perdão da concordância, pessoas velhas são criaturas que não envelhecem.
Quem não viveu momentos mencionados em livros de poetas ou em historias reais de grandes e aculturados autores, simplesmente não viveu.
Nossos velhos são na integra, os verdadeiros donos da verdade. Agem com sabedoria, acreditam naquilo que defendem e ensinam métodos implacáveis de sobrevivência, de conduta e de elevada presença. Definem com grande prova de competência os padrões hereditários que refletem na humildade positiva, na energia sustentável, sem farsa e sem fundamentos instáveis.
Nossos velhos possuem olhares aguçados, direcionados onde não existe transito livre, até mesmo quando o impossível acontece.
Só que nossos mestres caminham na mesma direção e breve estarão fazendo oposição ao tempo, bem longe, onde se ergue à fronteira do caminho de volta.
Não mais serão conselheiros ou poetas da verdade.
Aqueles que diminuem o valor da palavra e não são capazes de absorver a potencialidade do bem comum, continuarão enganando a si mesmos, falsificando o silencio, presenteando o selvagem trajeto do continuísmo, tendendo-se permanecer sempre seres humanos.
E neste mundo abandonado, onde o real paradoxo julgará o valor da legalidade, a melhor alternativa será refugiar-se no covil dos inimigos onde a falha da honra e a sensível inalteração do caráter levantarão com orgulho, os valores dos aconselhamentos do passado.
Velhos ensinamentos não morrem; apenas vagueiam pelo espaço.
Jovens empolgados continuarão a ser somente fidalgos do vazio se não aguçarem os ouvidos às grandes lições do passado.
Sem sabedoria e severidade de ações, a sociedade simplesmente continuará a vagar aleatoriamente, sem portar o leme sereno da vida.
Ainda há tempo pois cidadãos sábios não envelhecem.

terça-feira, 5 de maio de 2009

GERAÇÃO ESTAGIÁRIA.

Como é difícil sobreviver nos dias de hoje.
A situação ficou tão delicada que até nossos mortos perderam o sossego. Estão roubando dentes de cadáveres para vender a universitários de odontologia. Coisa de maluco mesmo.
Falando em universitários, minha crítica vai bem além daquelas que ouvimos por aí. Para garantir a eficiência e o aprendizado real, estudantes de várias partes do país fazem fila na porta das empresas, reivindicando o tão esperado tempo de estágio onde, a partir dali, irão garantir os instrumentos necessários para o dileto e tão esperado primeiro emprego.
Quando o estudante enfim consegue uma oportunidade de mostrar tudo aquilo que aprendeu teoricamente, dentro da empresa, o capricho das barreiras internas que se predominam no ambiente das áreas operacionais passa a ser o maior obstáculo da vida destes aprendizes de profissionais.
Creio que nas universidades não ensinam esta fase da vida que os alunos terão que atravessar.
Estagio garantido não é um premio a liberdade, mas um sólido projeto de energia sustentável. É uma guerra frente à nova realidade.
No contato mais intimo com as movimentações da empresa o estagiário tem que aceitar alguns caprichos internos e esquecer definitivamente de si mesmo e de seus costumes aqui na sociedade externa. E este procedimento, em grande escala, não tem participações paralelas.
Na obsessão em aprender o aluno costuma ir alem das normas progressivas e os companheiros concorrentes, velhos funcionários da empresa, escondem silenciosamente os detalhes primordiais das soluções dos problemas. Conclusão; a prova de competência do indivíduo vai lentamente água abaixo, some pelo ralo, tornando-o então, vitima de si mesmo.
O sistema oculto que se estabelece dentro das empresas com relação aos estagiários é muito fácil de ser desvendado; “trabalhador interno não gosta deste tipo de funcionário”.
A facilidade de ação que o aprendiz tem e o gesto de respeito adotado pelos supervisores empresariais com relação a eles, inverte consideravelmente a situação básica dos princípios fundamentais que justificam a presença do estagiário dentro da empresa. E aí a vaca vai pro brejo.
Resumindo tudo isto, a briga interna é bem mais feroz do que se pensa.
Estagiário que não tem domínio próprio, humildade, reflexão e uma certa psicologia natural, não sai das empresas apto ao trabalho.
Grandes personalidades se tornaram gigantes porque se espelharam em diversas outras personalidades. E é assim que deve ser feito.
Concorrer com um mecânico industrial, por exemplo, que conhece a área operacional da industria em que trabalha na palma de sua mão, é suicídio. O correto é observar para aprender. É por isto que o estagiário está ali. Conclusões e cálculos se tiram em casa, ou quem sabe, na hora do seu lazer.
É isto mesmo. Um estágio bem administrado será um grande premio para si mesmo.
Minha forma cruel de definir esta operação pode ser que provoque certo constrangimento aos estagiários da vida e até causar uma certa perplexidade no enfrentamento de algumas situações mas, nada a temer.
São assim os desafios da vida. Superar a si mesmo é um fator determinante que trará ótimos resultados e um futuro brilhante.
Mãos a obra.


Mauricio sena

sábado, 2 de maio de 2009

CARATER ESPELHADO

Diz uma sabedoria antiga que recordar é viver duas vezes e a manifestação progressiva do mistério da serenidade obrigou-me agora, retornar ao passado.
Em tantas expressões polêmicas, caminhamos pela vida afora, hora às vezes arranhando a alma por apenas detalhes, hora às vezes se alegrando, chorando, lamentando, mas sempre caminhando, sempre caminhando.
Em dados momentos o consolo da ausência eliminou motivações e caímos na amargura, perdemos o desempenho, desacreditamos no possível, mas continuamos caminhando.
Na imperfeição dos sentidos enfrentamos a sociedade e com um detalhe curioso descobrimos seus maliciosos pontos fortes.
Caímos várias vezes pela nossa audácia e juventude, e acompanhando a lenda da história dos outros, erguemos do impossível e restabelecemos o equilíbrio pelo simples gesto de respeito ao nosso destino. E continuamos caminhando, sempre caminhando.
Fomos marcados pela violência dos homens e no mesmo momento em que tudo parecia impossível, atravessamos a fronteira dos desejos, evidenciando nossa capacidade e prosseguimos sem reduzir a caminhada.
Fomos protagonistas das musicas românticas, do rock balada e dos bailes caseiros. Dançamos bolero, fizemos serenatas, namoramos em casa e inventamos o cuba-libre.
Transformamos sentimentos em poesia, cantamos a vida, desabafamos mágoas com os amigos e criamos nossas próprias emoções.
E caminhamos muito, sem olhar pra traz, sem conduzir o ódio, acompanhando a ilusão da áurea que nos guiava, seguindo rumo em busca de uma identidade que um dia seria eterna.
Acompanhando os critérios de formação do nosso caráter, fomos também estudantes ferrenhos, e quando tentaram tirar nosso direito à liberdade, nos tornamos rebeldes, idealistas e revolucionários.
Acompanhamos a revolução de Cuba, a criação de Brasília, a estúpida guerra do Vietnã, o desperdício de vidas nas Malvinas e sentimos na própria pele o autoritarismo verde-oliva trancando nossos mais aviltados anseios de liberdade.
E continuamos pela estrada, caminhando e cantando. Sempre cantando.
Desafiamos o bairrismo doentio da tradição e cantamos musicas italianas, criamos a jovem guarda e colamos fotografias imensas em nossos quartos onde se destacavam John Lennon, Paul Mackartney. George Harrison e Ringo Star.
Enfim, resistimos ao dogma e chegamos aos cinqüenta.
E se a saudosa memória não me falha, éramos bem mais felizes que hoje.
O tempo se foi, e agora somos protagonistas de nós mesmos.
Declinantes (assim como dizem os jovens) ou não, nossa postura do caminhar ainda continua.
E se me permitem o momento, vou me assentar ao sofá, abrir uma garrafa de cerveja bem gelada, vestir a fantasia do escrito e ouvir com serenidade um belo cd de Pink Floyd .

Mauricio Sena

sexta-feira, 1 de maio de 2009

CONVERSA COM O CHURRASQUEIRO DA ESQUINA

Acabo de sair da Câmara de Vereadores de Cachoeiro de Itapemirim onde numa reunião interessante, envolvendo políticos, entidades sociais, sindicalistas, representantes patronais e lideres comunitários, através da apresentação gráfica de uma representante do DIEESE, tentavam, a longas e compulsivas exclamações, demonstrar o fato chave do momento, ou seja; “A crise financeira mundial e seus efeitos colaterais”.
O então Sr. Prefeito Carlos Catelione, convidado especial do evento, elevando estimas primordiais ao seu subalterno chefe de finanças, solicitou a apresentação de demonstrativos financeiros onde, transparentemente, notava-se a “queda da arrecadação municipal”, devido a crise mundial.
Paralelamente, ocupando o espaço cedido, o representante legal do sindicato patronal expôs também, com enorme ênfase e convicção, as conseqüências, os efeitos e os prejuízos causados aos empresários pela então “crise econômica”.
Como as instituições são altamente democráticas e, em se tratando de vésperas do dia 1º de maio, data em que se comemora o dia do trabalho (e do trabalhador), ocupou seu espaço no plenário da câmara, como também convidado, o presidente da C.U.T. estadual, sr. Nunes, manifestando com a sabedoria de quem luta junto à massa operária, o pensamento único de toda a classe civil; a banalidade das analises ali apresentadas.
A cultura da desigualdade sempre foi uma situação desfavorável entre patrões e empregados. Este fundo moralista de privação intelectual se eterniza na proeminência das articulações patronais e ninguém mais engole esta distorção publica.
Na verdade, com crise ou sem crise, aquele que produz riquezas neste país reitera, de imediato, um tratamento definitivo para os traumas da servidão perpétua.
É óbvio que a ampla distribuição de renda é o antídoto que combate o flagelo e derruba qualquer tipo de crise.
O mundo real tem escolado alguns empresários a abandonarem suas antigas diretrizes, já obsoletas e arcaicas.
Quando se comprometem à fiéis seguidores da atualidade, reduzem o percentual de seus lucros e dividendos, apresentam contra-propostas viáveis aos representantes das classes trabalhadores, e aí passam a costurar o abrandamento da crise, abrindo um amplo horizonte ao fortalecimento de suas empresas onde os lucros, somados aos procedimentos, intensificam a produção dos seus produtos, abrindo com êxito um amplo mercado representativo.
Longe da ingenuidade, não obstante querendo banalizar as diversas análises, seria justo dizer que esta crise mundial é fruto de mera especulação.
É como disse na assembléia nosso companheiro da CUT:
“Não vamos deixar que o trabalhador brasileiro, mais uma vez, “pague o pato” pelas irônicas e alegadas imperfeições do sistema.”
AH! O churrasqueiro da esquina!
Ao sair do plenário dei uma passadinha ali pelo churrasqueiro da esquina, velho conhecido e de pouca cultura.
Por mera curiosidade resolvi perguntar-lhe sobre a “tal crise financeira”.
E com uma tonalidade firme, daquelas de quem vive a vida dentro da cultura e da sabedoria popular, pude ouvir a seguinte resposta:
“Comigo não existe crise; não tenho patrão. Trabalho bastante para sustentar minha família.”
Foi uma noite inesquecível.
Mauricio Sena