terça-feira, 2 de junho de 2009

DESVIO DE CONDUTA

Determinadas condições culturais enfrentam hoje grande dificuldade em se destacarem no cenário social.
O sentimento popular e a angustia em resolver tudo com a mais extrema agilidade tem distanciado as comunidades do pilar mestre de suas raízes, ou seja, a manutenção e o seguimento das tradições passadas.
Lembro-me bem, quando então fui trabalhar numa empresa de renome.
Dentre ferragens velhas e sucateadas encontrei algumas maquinas extranhas e antigas.
Por mero instinto conservador e homérico, tradicionalmente fruto de minha criação, separei aquelas peças e desencadeei uma série de questionamentos junto àqueles funcionários mais antigos, conhecedores daqueles objetos obsoletos e de suas antepassadas utilidades dentro da fábrica.
Fiquei maravilhado com o resultado da minha pesquisa. Algumas ferralhas daquelas que estavam ali prontas a serem descartadas ao lixo, foram peças chaves da produção da empresa desde a época do Brasil colonial; uma raridade. Infelizmente abandonadas.
O interesse pela “arvore genealógica” das tradicionais famílias brasileiras não tem seguidores. E sabem porque? Dá muito trabalho pra organizar. Ninguém está interessado em saber quem foi o tataravô, a bisavó, o avô e assim por diante.
Este tipo de cultura virou um espaço oco no próprio espaço da vida da gente.
Na verdade, a atual geração não é guardiã sublime de sua própria existência. Vivem na incerteza de suas próprias ações.
E é por este e vários outros motivos que a juventude atual traduz ansiedades, destinos incertos, dúvidas e hábitos debilitados.
O núcleo familiar de hoje vive um momento perplexo.
Acho mesmo impossível uma busca ao regime tradicional do passado. E sabem por que? Porque nós, a base principal destas revelações ocultas, não fizemos a nossa parte.
Aprendemos com nossos antepassados as tradicionais caminhadas do nosso povo e não as divulgamos, paramos no tempo.
Para que um produto tenha boa aceitação no mercado e atraia os olhares e os anseios da mídia, tudo primeiramente parte da qualidade e da apresentação à qual vamos divulgá-lo. E nós simplesmente descartamos esta apresentação.
Parece incrível, mas converso com pessoas que não conheceram seus pais e nem tiveram interesse em saber sua originalidade, sua descendência.
O abstracionismo às tradições familiares, violenta as instituições sociais e gera um circulo vicioso de ausência da auto-estima.
Nossa geração tem elaborado planos ambiciosos para superar problemas, atrair olhares, amenizar relações e conquistar caminhos. Mas submetem-se a caprichos bem mais interessantes para o atual momento.
Categoricamente consigo me responsabilizar em dizer que o oportunismo da integração não estabelece a garantia de futuras gerações.
Para que se conquiste novas fronteiras e estabilize projeções futuras se torna necessário aderir à iniciativa de explorar as peculiaridades e a profundidade moral da base familiar.
Nossa educação precisa urgentemente de uma mudança significativa, pois o quadro social a que vivemos é lamentavelmente intolerável.
Nossos filhos estão sendo programados para um desenvolvimento de projeções comuns. São forçados a seguirem uma linha direcional avaliada erradamente pela nossa própria vontade. Nós é que estamos enxergando o amanhã desta criação que se apresenta na plenitude da vida.
O regime tradicional de vigilância contínua, de liberdade de pensamento, de autoridade paterna e corretiva deixaram de ser um plano de ajuda. Minou-se o regime autoritário e surgiu espontaneamente a democracia “libertina”. Adaptação de vida que vem afundando silenciosamente toda sociedade moderna.
E o que vemos por aí são frutos de nossa própria maneira de “reeducar”.
Políticos incompatíveis com a seriedade dos cargos que ocupam, profissionais da saúde portadores de profunda carência de conhecimentos, retrocesso escolar, violência desencadeada e uma série de outras irregularidades que dificultam, desmoralizam e infernizam a vida de todos nós.
Aquela base de influência que resguarda e enobrece o homem de bem precisa ser recuperada.
O fator resgate para respaldar esta complicada divida social está bem mais perto de nós do que imaginamos.
Se tivermos a capacidade de evoluir com iniciativa própria, mantendo a eficácia pela qual nossos antepassados se honraram em estruturar, ainda há tempo.
O desafio parte de dentro do nosso templo, do nosso ego, do nosso próprio lar.
Se enxergarmos o amanhã de forma ativa com certa dose de profundidade, extremo controle emocional e uma dupla participação de responsabilidade e tolerância, estaremos aí dando o primeiro passo para recuperar todo este desvio de conduta social.